Para muitas pessoas, as agonias existenciais surgem pelo grande leque de opções e não pela falta delas. Há quem veja isso como mimadice ou imaturidade. Há quem veja como algo muito positivo, já que, se é possível escolher, que se escolha o que traga felicidade para quem escolhe e, de preferência que quem escolhe possa ser o vetor para a felicidade e bem estar de mais outras pessoas, exponencialmente.
Do ponto de vista de quem escolhe, a gastura se dá pelo medo de não errar. De fazer a escolha certa. De fazer a melhor escolha. Se há questão financeira envolvida, vem o medo de justamente não colocar por terra o esforço de quem pôde proporcionar uma condição tão rica de oportunidades.
E vem gastura também pelo fato de que, no geral, nossa sociedade é muito positivista. A escolha tem que ser definitiva, principalmente as profissionais. Talvez para as gerações que vem agora isso já não seja mais tão verdadeiro. E há pessoas da minha geração que conseguiram se libertar desta limitação.
Se a própria natureza é cíclica, como pode ser imposto a nós, humanos, que sejamos definitivos em nossas escolhas? Já começa tudo errado: aos 17 anos temos que escolher uma profissão. Oi?! Sequer temos consciência de nós mesmos, de nossas qualidades, defeitos, medos. O auto-conhecimento nesse momento da vida passa longe de existir.
E mesmo quando ele começa a existir, vamos vivendo experiências que nos fazem mudar de ponto de vista, de visão de mundo, de compreensão de mundo. De compreensão sobre o que nos faz feliz e o que queremos para aquele determinado momento de vida.
E o senso comum também não ajuda né?! No meio desse post minha mãe me passa o jornal Metro de SP da última quarta-feira onde leio: "Já escolheu a profissão? Estudo taz as sete carreiras mais bem pagas do mercado hoje". Sempre vinculando a satisfação a dinheiro. Deus do céu...
Até nos relacionamentos mudamos. Hoje não amamos mais como amávamos aos 18 anos. Estando ou não com a mesma pessoa.
Por que não podemos ser
Advogados E músicos?
Cineastas E administradores?
Trabalhadores E satisfeitos?
Contadores E bailarinos?
Amantes E casados?
As possibilidades da vida são tantas! É um exercício constante nos livrarmos das amarras que impeçam que as vivamos. Sejam essas amarras medo, condição financeira, falta de tempo, preocupações...
E faço minhas as palavras de Soraya Ravenle em entrevista a Diogo Nogueira no programa Samba na Gamboa, quando diz que foi fazendo um musical (que mistura, teatro, dança e música) que caiu a ficha: "Acho que meu lugar maior é nessa mistura, sabe?! (...) Sinto que é bom viver assim no E, E e não OU, NÃO POSSO (...)".