Já sabia que sou apaixonada por coisas antigas e histórias
de lugares, pessoas, famílias, objetos. Principalmente de famílias e lugares.
Mas não sabia que isso era tão forte a ponto de querer saber mais. Investigar
mais.
Olinda, João Pessoa e Recife, mais que uma beleza natural
estonteante e construções antigas cheias de charme, preservam uma vida histórica
intrigante e ainda latente.
A Igreja de São Bento, em Olinda, guarda a arte de 1660, mas
– e principalmente – as relações de poder bem claras que existiam à época
colonial: a nata da sociedade ficava intocada na região do altar. A classe
média ocupava uma espécie de camarote e a classe baixa amontoava-se nos bancos
comuns onde hoje todos nós sentamos, após sangue de muitos derramado para tal
conquista. Negros não entravam.
Porto de Galinhas carrega esse nome por conta do contrabando
de negros africanos, que continuou mesmo após a abolição. Eles aportavam
amontoados abaixo de gaiolas de galinhas da angola. Quando estes navios
contrabandistas chegavam, os comerciantes do porto gritavam “a galinha
chegou!”.
Ainda em Olinda deparo-me com uma dupla de repentistas. Na
simplicidade da vida que levam e com as muitas histórias que seus cabelos
brancos já devem ter visto, vivido e ouvido, dão sentido às rimas de maneira
sapeca, leve, bem-humorada. Crítica, também.
Simplicidade...talvez Norte, Nordeste e Centro-Oeste de
nosso país consigam preservar isso quase como que uma filosofia de vida. Nos
passeios sempre cruzamos com os nativos locais. Dão-me uma sensação de que
pouco querem. Pouco querem ter. Pouco querem ser. Existem, apenas. Dia a dia.
Sem qualquer julgamento de que isso seja bom ou ruim. Comento, apenas.
No entanto, ali estão por conta de nossos colonizadores
portugueses, holandeses e espanhóis que muito quiseram para chegar ao ponto de
desbravarem oceanos, chegar até ali e começar uma vida que para muitos hoje é
de pouco querer.
Naus primitivas. Métodos de construção primitivos. Aos olhos
de hoje. E tanta beleza criada, descoberta, construída. Barroco. Riqueza de
detalhes, cores, formas e curvas. Como? Encanta.
E mais ainda encanta o que se passou naquelas casas, praias,
praças. Amores, negociações de vidas, estratégias de conquista. Traições
amorosas e nos negócios. Sexo, dramas, tortura. Planos, banquetes, risos,
danças. Sonhos. Fartura e miséria.
Queria estar ali, sozinha, à noite, para ouvir o que cada
tijolo, cada afresco, cada gota do mar tem a me contar. Aquilo tudo pulsa,
respira, é vivo ainda. Sentem? Não é só um conjunto de lindas casas coloridas e
quilômetros de beleza natural. As vidas que por ali passaram, como em todos os
lugares, ali perpetuam-se pela história.
E é o simples, o bruto, o rústico que me atrai nisso tudo. O
forró, o caipira, a capoeira, o samba, a roda de samba, o repente, o são joão.
Sinhá por gosto. Crioula por paixão.